Dra Karla Palmeira

“A Dor é inevitável, mas sofrer é opcional.”- Zen Budismo

Para compreender esta sábia citação budista é preciso compreender melhor o que é a DOR. 

A definição atual de dor da Associação Internacional para Estudos da Dor (IASP) afirma que dor é “uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial” (Revisão de 2020). 

EMOCIONAL??? Sim, a dor é uma experiência sensitiva, mas também é influenciada por fatores psicológicos e sociais. Por isso, a dor é sempre uma experiência individual. Isto explica porque lesões parecidas podem causar muito sofrimento para alguns e pouco, ou nenhum sofrimento, para outros.  

Mas como isto é possível?  

Os pesquisadores ainda não possuem a plena compreensão dos mecanismos envolvidos na dor, estes ainda são fonte de intensos estudos.  Entre os mecanismos conhecidos, temos a Teoria do Controle do Portão, descrita por Melzac e Wall (1965).  Segundo esta teoria, o Sistema Nervoso Central (SNC) é capaz de modular os estímulos nociceptivos produzidos por uma lesão na periferia do corpo, como uma queimadura no dedo, por exemplo. Os chamados neurônios excitatórios levam sinais de perigo da periferia do corpo até o SNC e amplificam a percepção de dor, com a intenção de proteção. Mas, existem os neurônios inibitórios, que modulam estes estímulos nociceptivos, diminuindo a percepção da dor. 

Várias substâncias químicas participam deste processo, e são capazes de modular a dor, tais como: – opioides endógenos (endorfinas e dinorfinas), neurotransmissores inibitórios  (ácido gama-aminobutírico (GABA), serotonina , entre outros) . As endorfinas são opioides naturais que inibem a dor, mas também estão relacionadas com o prazer, com controle da ansiedade e depressão. O neurotransmissor GABA é o principal neurotransmissor inibitório do SNC, produz calma e relaxamento.  A serotonina está ligada ao bem estar e a felicidade. Níveis baixos de serotonina estão relacionados a depressão, ansiedade e alguns transtornos mentais. 

Situações clínicas de estresse, depressão, ansiedade, hipervigilância, ou experiências negativas de vida, podem causar um mau funcionamento deste sistema modulatório da dor.  Assim, hábitos de vida saudável, com práticas de exercícios físicos, dieta equilibrada e de boa qualidade, um ritmo sustentável de vida com controle do stress, ter um sono de qualidade por um tempo adequado, prática de terapias integrativas( mindfulness, ioga, meditação, etc.) influenciam diretamente na percepção da dor, causando mais ou menos sofrimento.

É muito importante ter em mente, que somos agentes ativos no controle do sofrimento, pois a dor tem a ver com tudo aquilo que somos, e não apenas com uma lesão tecidual.

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Dra Karla Palmeira
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